Telefone, chaves… rosto? Saiba por que a biometria pode tornar a sua carteira física obsoleta

11 de outubro de 2022 | De Vicki Hyman

O Parque do Ibirapuera é um paraíso para os viciados em condicionamento físico. Trata-se de um oásis de mais de 160 hectares no meio da selva de concreto de São Paulo, com milhares de pessoas reunidas ali todos os dias. Alguns deles param em uma loja da rede de supermercados de luxo St. Marche na Alameda Jauaperi para tomar água ou um lanche após o treino. Até recentemente, isso significava fazer malabarismos com suas carteiras, telefones e suas novas compras.

Agora eles aparecem, pegam o que precisam, sorriem para o caixa e saem, diz a gerente da loja Adriana Souza. Um sorriso de um milhão de dólares? Não – a loja faz parte de um programa piloto para testar o checkout biométrico, onde os compradores podem pagar suas compras simplesmente apresentando seu rosto a uma câmera no caixa.

“Eles não precisam carregar bolsa ou carteira”, diz Souza. “Ouvimos muitos relatos de clientes de que agora é mais fácil comprar sua água ou sua comida enquanto treinam ou correm – são muitos os elogios pela praticidade”.

Esta mais recente evolução da experiência de checkout sem toque alimentada pela biometria - a tecnologia de autenticação que já fez parte da ficção científica - é agora usada para tarefas diárias, desde desbloquear nossos smartphones até acessar edifícios. A previsão é de que o mercado de tecnologia biométrica chegue a US$ 18,6 bilhões até 2026, com uso crescente em aeroportos e controle de fronteiras, assim como em serviços financeiros, de saúde, automotivos e outros setores.

A autenticação biométrica, combinada com a criptografia de dados, pode ajudar as pessoas a  protegerem e  controlarem seus dados, diz Ajay Bhalla, Presidente da área de Cyber ​​& Intelligence da Mastercard. Sua equipe lançou o piloto com a Payface, empresa de tecnologia biométrica sediada no Brasil.

“A biometria – usando identificadores físicos para provar que você é quem diz ser – é fundamental para criar, gerenciar e verificar nossas identidades em um mundo em rápida transformação digital”, diz Bhalla.

Com o checkout biométrico, os compradores não precisam mais tocar, aproximar ou inserir um cartão ou usar sua carteira  digital – tudo o que precisam é do rosto, da palma da mão ou  da íris dos olhos.

A Mastercard desenvolveu os padrões e diretrizes que bancos, comerciantes e provedores de tecnologia como a Payface devem seguir para tornar a experiência rápida e segura, além de garantir a privacidade. A Mastercard trabalha com parceiros em todo o mundo para levar a experiência aos varejistas, com pilotos planejados para o Oriente Médio, EUA e Ásia em um futuro próximo.

No Brasil, o checkout biométrico foi lançado neste verão em cinco lojas St. Marche em São Paulo, onde o   CEO da rede,  Bernado Ouro Preto, diz que a tecnologia está agilizando as filas e melhorando a experiência de compra.

A parte mais difícil é a espera

Uma longa fila foi, essencialmente, o que levou à criação da Payface. Os cofundadores Eládio Isoppo e Ricardo Fritsche se conheceram na universidade em Florianópolis, no sul do Brasil, mas Fritsche saiu antes de concluir seu curso de ciência da computação para fundar uma EdTech de sucesso. Alguns anos depois, Fritsche voltou à universidade para concluir sua graduação e, um dia, preso na fila do caixa da lanchonete, pensou em aplicar a biometria aos pagamentos.

Ele foi tomar um café com Isoppo, um empreendedor serial com muitos contatos com bancos brasileiros e prestadores de serviços de pagamentos. Os dois lançaram a Payface em 2018 e trabalharam juntos para refinar a tecnologia e levá-la para os varejistas.

Quando os planos para o piloto começaram, a Payface também entrou para o Mastercard Start Path, o programa de engajamento da empresa para startups em estágio mais avançado, para fazer novas conexões e obter conselhos sobre como dimensionar a tecnologia.  “Fazer parte do programa Start Path nos ajudou a perceber o potencial da nossa tecnologia e como nós conseguimos trabalhar juntos com a Mastercard para transformar a indústria de pagamentos”, diz Isoppo.

Os resultados do piloto até agora têm sido promissores: quase 1.000 pessoas se inscreveram – três vezes mais do que o esperado – e usaram sua biometria para fazer o checkout com uma média de quase seis transações ao longo do piloto de três meses. Uma pesquisa da Mastercard com quase 100 clientes que configuraram e se inscreveram no piloto da Payface mostrou que 90% se sentiam à vontade para fazê-lo e 76% certamente recomendariam pagamentos biométricos a um amigo.

Para começar, os clientes devem primeiro registrar suas credenciais de pagamento e sua biometria – neste caso, tirando uma foto de seu rosto – na loja ou em casa por meio do aplicativo Payface. Para proteger a privacidade do usuário, a foto é convertida em um modelo digital - uma série de uns e zeros - e depois criptografada. Quando é hora de pagar na loja, os clientes sorriem para uma tela, que o software Payface Cloud compara com os modelos digitais dos usuários inscritos para confirmar sua identidade e, em seguida, as credenciais de pagamento tokenizadas são processadas como uma solicitação de autorização normal.

O checkout biométrico exige um novo hardware, mas em muitos casos, as lojas podem usar tablets genéricos e relativamente baratos. Como benefício adicional, essas telas biométricas também podem dar aos varejistas a oportunidade de incorporar ofertas de fidelidade e outros serviços personalizados no momento do checkout.

“Nossos clientes estão achando isso inovador, diferente e  interessante, e nossos funcionários da linha de frente estão achando essa nova forma de checkout muito simples e prática, facilitando  a rotina diária”, diz  Ouro Preto. “Acredito que estamos no início de uma jornada para tornar o pagamento com o rosto e outros meios de pagamento para além dos cartões e do celular uma realidade cada vez mais constante”.

O boom da biometria

O uso da biometria para autenticação de identidade  é utilizada há séculos, talvez desde o reinado de Hamurabi na Babilônia, quase 4.000 anos atrás, quando as impressões digitais eram usadas para celebrar contratos. Os padrões únicos das  impressões digitais dos dedos foram usados ​​para autenticação ao longo do tempo na China, no Japão e na Pérsia. No final do século 19,  elas estavam sendo usadas em investigações criminais – um duplo assassinato particularmente brutal em Buenos Aires em 1892 é considerado o primeiro a ser resolvido comparando impressões digitais na cena do crime com aquelas do suspeito do assassinato.

Na década de 1930, um oftalmologista propôs pela primeira vez o uso do padrão da íris dos olhos como uma ferramenta de reconhecimento, mas a tecnologia só começou a ser usada sessenta anos depois. E o precursor da tecnologia de reconhecimento facial, utilizadaem uma fração de segundo de hoje,  aconteceu na década de 1960, quando o pioneiro da inteligência artificial Woody Bledsoe e seus colegas usaram um computador para calcular, armazenar e reconhecer as distâncias entre as coordenadas dos rostos humanos em fotografias.

Embora as forças policiais venham aproveitando as impressões digitais desde a Revolução Industrial,  foi somente neste século que a biometria chegou ao público geral, principalmente com o surgimento de leitores de impressões digitais em smartphones. O Índice de Novos Pagamentos de 2022 da Mastercard mostra que mais de seis em cada 10 consumidores em todo o mundo acreditam que a biometria é mais segura do que um PIN, uma senha ou outras formas de identificação, incluindo a autenticação de dois fatores.

E novos tipos de biometria física estão surgindo – do reconhecimento de voz aos padrões dos vasos sanguíneos. Combinado com o crescimento da biometria comportamental - o estudo de como andamos, o ângulo em que seguramos o telefone, a rapidez com que digitamos - o uso da biometria continuará a se expandir à medida que mais áreas de nossas vidas passam a estar online.

A Mastercard vem investindo em inovação biométrica há anos, introduzindo a autenticação habilitada por biometria para compras digitais em 2015 e lançando no ano seguinte um cartão biométrico para uma segurança adicional em compras na loja. A Mastercard passou anos desenvolvendo padrões para permitir que os compradores usem sua biometria em varejistas e fornecedores de tecnologia, onde quer que estejam no mundo.

A interoperabilidade, diz Bhalla, é fundamental para materializar o potencial da tecnologia; a biometria já pode ser usada não apenas para comprar uma garrafa de água em seu mercado local, mas para acessar e compartilhar seus registros médicos ou verificar sua identidade para exames online, ou em compras controladas pela idade: “A biometria traz facilidade e segurança em igual medida, e é nossa responsabilidade garantir confiança onde quer que as pessoas interajam com o ecossistema digital, desde o caixa até as compras online e o metaverso”.

Romeu Alves da Costa é um cliente do St. Marche que se inscreveu no programa de checkout biométrico e se sentiria à vontade para deixar a carteira em casa.

“Adoro tecnologia, tudo que é inovação e a praticidade de pagar só com o rosto”, ele diz após fazer uma compra na loja da Jauaperi. “Posso me ver pagando com o rosto no futuro em postos de gasolina, no transporte público e em todo lugar”.

Vicki Hyman, DIRECTORA DE COMUNICACIÓN, MASTERCARD

vicki.hyman@mastercard.com