Economia global vive momentos conturbados. Quais as perspectivas?
14 de março de 2022Estudo da Mastercard analisa principais tendências, como o crescimento de serviços digitais e o retorno das viagens, mas aponta uma série de riscos que podem tumultuar ainda mais o cenário econômico
Após dois anos atípicos, marcados pela pandemia de Covid-19, quais são as principais tendências para a economia global em 2022? O estudo Economy 2022, elaborado pelo Mastercard Economics Institute, mostra como deve se comportar e quais serão os principais desafios para a economia no mundo.
O estudo revela que cinco fatores devem moldar a economia neste ano. São eles: mudanças na poupança e gastos das famílias, retomada do equilíbrio da cadeia de suprimentos, aceleração do digital, a volta das viagens globais e uma série de riscos econômicos.
POUPANÇA VERSUS GASTOS
Uma das maiores mudanças para se observar em 2022 será na poupança das famílias. A taxa global de poupança quase dobrou em 2020-2021, na comparação com o período anterior à pandemia. O estudo da Mastercard estima que os gastos do consumidor, usando a poupança acumulada, podem contribuir com pelo menos 3 pontos percentuais para o crescimento do PIB global em 2022.
CADEIA DE SUPRIMENTOS REGULARIZADA
A pandemia causou um aumento significativo nos gastos com bens e produtos e uma diminuição nos gastos com serviços. Isso gerou uma sobrecarga nas cadeias de suprimentos e logística. Com os armários lotados, a tendência aponta para o equilíbrio em 2022, com os serviços se tornando novamente desejados e a volta da "economia da experimentação".
Antes da crise sanitária, a parcela dos gastos com bens vinha caindo a um ritmo gradual de -0,3% ao ano, enquanto a economia de serviços crescia. A pandemia – que fechou barbearias, restaurantes e deixou os táxis vazios – causou uma interrupção nesse crescimento, que já durava 27 anos. Os gastos com bens cresceram de 39% para cerca de 47% em seu pico.
O relatório da Mastercard aponta que, no Brasil, a demanda por serviços já começa a ultrapassar a de bens. Os gastos online no setor de bares e restaurantes, por exemplo, cresceram 1,3 ponto percentual, quando comparados com o período pré-pandemia.
DIGITAL CRESCE
A adesão ao digital veio para ficar e o relatório mostra que os consumidores estão comprando online em todos os setores.
Com a mudança para o digital, surge uma nova tendência: o aumento das assinaturas de comércio eletrônico, como clubes de vinho e entrega semanal de compras de supermercado.
Análise dos especialistas da Mastercard em 32 mercados mostra que 87,5% dos países registraram crescimento nos serviços por assinatura em 2021, na comparação com o ano anterior.
Empresas de automóveis, fitness virtual, aluguel de bicicletas e produtos para animais de estimação estão entre as que se beneficiaram com o modelo de assinatura.
No Brasil, a participação de assinaturas no gasto total do varejo aumentou 4,4 vezes, de 2020 para 2021, quando passou a representar 1,20% dos gastos online.
VIAGENS VOLTAM
Com a abertura das fronteiras de muitos países, o relatório aponta para a recuperação das viagens de lazer, especialmente as de média e longa distâncias, que devem crescer em 2022.
O estudo registra que, com menos barreiras de mobilidade, aconteceu uma recuperação rápida dos voos domésticos e de curta distância (menos de 1.000 km), enquanto as viagens internacionais e as de negócios ficaram para trás.
Mas a recuperação está em andamento. No Brasil, as viagens domésticas já superam, em média, as realizadas antes do início da pandemia (115%). Os passeios de curta, média e longa distâncias subiram 65%, 93% e 36%, respectivamente.
RISCOS A SEREM ENFRENTADOS
Uma série de riscos ainda tem potencial de perturbar a economia global. Os mais imediatos estão relacionados com a possibilidade de surgirem novas variantes do coronavírus e a guerra na Ucrânia, que já provocou um mega aumento no preço dos combustíveis e deve impactar no custo de diversos produtos e na inflação.
Mas existem outros problemas que podem prejudicar a recuperação econômica no mundo. Os especialistas da Mastercard listaram alguns, como a recalibração acentuada dos preços das moradias, que valorizaram 66% nos últimos dois anos, o aumento nos preços do petróleo, os declínios fiscais nas economias avançadas e as guerras tarifárias internacionais.
"Não vimos, no ano passado, o retorno ao normal que muitos desejavam, mas coletivamente alcançamos um tremendo progresso. Globalmente, o crescimento econômico, os avanços das vacinas e as transformações digitais, que tornaram as empresas grandes e pequenas mais resilientes, continuam a moldar o futuro. Prevemos que a demanda e o poder de compra do consumidor vão crescer e a economia da experimentação deve ressurgir", diz Bricklin Dwyer, economista-chefe da Mastercard e diretor do Mastercard Economics Institute.
COMO É FEITO O ESTUDO
O estudo do Mastercard Economics Institute é baseado nas atividades de vendas agregadas e anônimas na rede Mastercard, entre outras fontes de pesquisa. Os especialistas desenvolveram uma medida de quantidade e preços de bens e serviços consumidos em economias de todo o mundo.
Criado em 2020 para analisar tendências macroeconômicas pela lente dos consumidores, o instituto da Mastercard é formado por equipes de economistas, analistas e cientistas de dados. Os estudos são uma ferramenta de pesquisa para fins informativos e não servem como aconselhamento ou recomendação de investimento.